sábado, 22 de novembro de 2008

Nostalgia

Ah, um dia tiro meus anéis. Um dia só fico descalço,
ponho minhas patacas de 7 nós e tomo aquele banho de rio doce na veia.
Na verdade, eu queria mesmo era ter de volta os meus 16 anos.
Queria o tempo que passou nessa cabeça que estou vivo.
Agora eu tenho um mouse e um teclado fosco,
perdidos dentro da minha caneta de marfim.
Vida não é isso. Esperei um tanto achá-la em algum rabisco
que agora eu não sei me perder em tantos rascunhos.
Queria saber me perder... Pôr meus chinelos de amálgama,
dar um pulo da última pedra do riacho largo que imagino agora.
Meus chinelos... São ríspidos hoje, mas queria-os todo branco.
Meus 16 anos não voltarão mais. Nem minha cabeça que estou vivo hoje.
Espero encontrar os meus chinelos em algum leito de rio doce,
onde estarei daqui pra mais adiante.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Presente pra Ana

É pequenininho, bem miudinho mesmo. Um monte de ós, és e til misturados em um bando de consoantes separadas por espaços e parágrafos. É um texto, ou pelo menos quer sê-lo. É uma autoexplicação sem licença. Nada de mais, só para dar-te embrulhadinho num envelope virtual de email, por ser 'inorkutável'. É pra dizer alguma coisa que nem ele mesmo sabe o quê. Quer dizer, mesmo gaguejado, ele pretende começar uma hora. Ou uma hora de um dia qualquer. É pequeno, já disse, mas quer ser dado, ser dardo, mesmo com inveja da flecha. É uma tentativa de levar-te bons fluidos, bons ares, bons cheiros e tilintares ao ouvido; é um mix de sorvete da cubana com a batata frita feita na manteiga da minha avó: bem baiano mesmo; é um sorriso virtual, pra você ler nesse texto como se fosse a tela do filme matrix; é um abraço forte, apertado, sincero e bem-vindo, providencial nos dias de saudade; é aquela conversa sobre o cd novo de zeca baleiro, sobre o livro de putaria de joão ubaldo, uma viagem fubenga de reveillón, os perrengues do carnaval e o 'buraco' na casa dos outros. Ele quer ser o riso bobo de besteiras proferidas enquanto silvinha serve aquela antarctica gelada de dois reais. Ele quer ser aquela empolgação que leva a gente pra um monte de lugares diferentes, em bairros diferentes, à procura de movimento, badalação e cerveja gelada nas noites de fim-de-semana. Ele também é pra dizer que saudade é aquilo que fica daquilo que não ficou. E deixou aqui um tanto, levou um pouco, troca-se virtualmente a cada dia algum outro tanto.

Esse é meu presente para Ana. Pode até ser que algum dinheiro do mundo e tortura pudessem comprar e arrancar mais bonito, com a escritura manunscrita de algum Saramago. Mas, o que importa pra ele é a vontade dele de ser tudo isso que ele te deseja.


Feliz Aniversário.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

...em paz eu digo que eu sou o antigo do que vai adiante...

Eu preciso desabafar de alguma forma. Na verdade, eu queria muito te dizer isso tudo ao invés de escrever em um lugar vazio como este, num email que eu mandarei para mim mesma, pelo medo de fazer alguém do mundo sofrer com tudo isso que eu sinto. Certo dia, ao caminhar pelas largas ruas e curtas calçadas de salvador, percebi o quanto te quero muito. Não sei, pensar em você me trouxe uma paz incontrolável, dessas que a gente gostaria de viver e morrer por muito tempo. Pensei em como estaríamos bem juntos, em como começaríamos a namorar, no primeiro beijo, se louco ou apaixonado, ou amoroso e lento, com as bocas entrelaçadas consumidas em diversos átimos de desejo, ou se comidas pela língua lânguida e apressada. Eu pensei em tudo... pensei em você, na sua pele morena, nos seus olhos loucos de amor, no seu jeito de me olhar, que mesmo sem amor ou sem loucura, eu adoro um tanto.
Eu pensei em como seria bom morar com você, em acordar contigo todos os dias e ouvir e dizer "eu te amo" pra tomar aquele banho gelado nos dias de verão. Eu fiquei pensando na possibilidade de te fazer feliz. Não pensei em mim como a pessoa mais certa pra te fazer feliz, mas como uma pessoa com a vontade mais imensa de ver em você a felicidade concretizada em atos, beijos, carinhos. Eu pensei em ligar pra você! Ah, como eu pensei e penso! a vontade é tanta que eu não fiz. Porque eu sabia que faria você sofrer um tanto, mais que antes e que agora. Pior é que eu estou desesperadamente apaixonada, desesperadamente por você.


(bateu aquela vontade de não escrever nada mais...)




22 de junho de 2008. Ouvindo Alanis Morissette, Thank U.

"How 'bout me not blaming you for everything?
How 'bout me enjoying in a moment for once?
How 'bout how good it feels to finally forgive you?
How 'bout grieving it all one at a time?
(...)
How 'bout no longer being masochistic?
How 'bout remembering your divinity?
How 'bout unabashedly bawling your eyes out?
How 'bout not equating death with stopping?

Thank you, India, Thank you, providence
Thank you, disillusionment
Thank you, nothingness, Thank you, clarity
Thank you, thank you, silence".

sábado, 16 de agosto de 2008

Um brinde!

É engraçado como às vezes a gente se apega a umas coisas engraçadas. Outro dia, entre as idas e vindas pelas noites e tardes de Salvador, conheci algumas pessoas. Claro, uma ou outra, a depender do seu estado de espírito e do estado de espírito alheio, uma química falante acontece. Mas, geralmente, quando percebo uma impressão diagnóstica de holocausto à vista, profiro a sutil pergunta ininteligível - qual é o teu signo??? (pausa longa). A resposta, claro, é coincidentemente a mesma: - leão; ou, - gêmeos; ou, - capricórnio. Depois de alguns goles de cerveja e falas desconexas, reflito sobre a pergunta idioticamente abrupta: um gosto amargo de crença pobre terceiro-mundista abate meus olhos fechados. A resposta poderia ser qualquer uma das outras 9 possibilidades do zodíaco, assim como a pergunta do meu ser idiossincrático poderia ter sido outras mil quaisquer. Na realidade, pareço um profeta zodiacal fazendo um banco de dados para um projeto de pesquisa com bolsa no cnpq. É duro perceber isso, porque me prendo a uma realidade que desconheço e nem acredito tanto quanto é a sinceridade da pergunta. Eu daria tudo para ver as minhas caras quando a reposta ocorre na direção de um desses 3 signos perturbadores. Solto um - affffff, ou um - ah, percebi... ou até um - deus é mais!!! As pessoas ficam meio pasmas, perguntam sempre - por quê??? o que tem de errado???, e nada muda após esse momento, porque eu não tenho essa estatura literária necessária para uma resposta consistente e 'cientificamente' explicativa. Mas o que importa aqui agora, é essa tal de coincidência persecutória que me deixa um tanto criativa quanto às faces de espanto ou desilusão.
A coincidência, caros e fantasmagóricos amigos, é uma entidade onipresente, onisciente, onipotente. Um deus, portanto. Não é palpável, mas se torna criatura em milésimos de segundo quando ocorre. Se tem uma coisa mais sem explicação e sem nexo que me atordoa, é essa tal de coincidência. É um absinto ilusório pra eu achar que a vida é um filme com seu início por escolha de dois seres humanos, e que terá seu fim imutável com a chegada da senhora de vestimenta grã e foice empunhada. Tantas delas, engraçadas ou não, vêm para dar um "up" em vidas de sabor duvidoso que, mesmo insosas, invadem algum tipo de universo paralelo e alcança os grãos-mestres donos de açúcares encantados.
Não tão assim correspondente à freqüência da coincidência, ocorrem também aqueles ditos "déja vu". Tantos desses são um indicativo de que existe uma tal mediunidade inerete aos seres superiores clarividentemente sensíveis ou um mau funcionamento sináptico dos neurônios cerebrais. Eu fico aqui me perguntando o porquê desses curtos-circuitos no cérebro de um ser humano que nem sabe responder de onde ele veio, pra quê ele veio e pra onde ele vai. É meio sacana e ao mesmo tempo elucidativo, intrigante. A explicação que tenho é de que o ser humano precisa de um tipo de estímulo, oculto ou de curto, para que não se trave numa só realidade imensurável e excludente. Existir é realmente muito difícil. Pensar que nascemos nós de um óvulo junto a um espermatozóide campeão de corrida "in utero", desabrochamos de um punhado de células microscópicas e nos tornamos assim, bonitos ou feios, altos ou baixos, simpáticos ou arrogantes, sorridentes ou tristes, é de uma divindade extrema. É cientificamente imponente. E ainda, essas mesmas células zigóticas brindam com um curto-circuito ou clarividência o seu fruto. Realmente magnânimo. Estrogonoficamente fantástico. Um brinde à realidade da vida com curto ou sem curto.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Noves fora zero.

Não saber o mal do mundo.
Não saber o que se sente e o que se quer.
É puramente um não saber mesmo,
Sem dor de ouvido,
Sem zumbido no pensamento.
Mesmo que te achem chato ou ridículo,
que o som do não dito seja alheio,
seja feio ou dorido:
o não sei é sempre o mesmo feito.
Não saber se peca o espanto,
se se nega o santo,
se se entrega ao encato;
se o pote está cheio,
se o copo é alheio:
visto-me das palavras incertas
e do meu imprevisto não quisto.
Não sei.
Nunca saberei se não o viver,
se não ocorrer a luta da indecisão.
E, ainda assim, quero vivê-lo intensamente,
para mesmo saber que não sei,
para ver se não sei,
e ter o breve encanto de se sentir vazio
de razão e direção.


[... quero a guanabara, quero o rio nilo, quero tudo ter, estrela, flor, estilo, tua língua em meu mamilo, água e sal. Nada tenho, vez em quando, tudo. Tudo quero mais ou menos quanto. Vida, vida, noves fora, zero. Quero viver, quero ouvir, quero ver...
Zeca Baleiro - Bandeira.]

sábado, 19 de julho de 2008

Dois.

Dois. Duas. Acho que todo mundo queria ter dois de tudo: duas músicas, dois nomes, duas vidas; dois bifes robustos, duas garrafas térmicas, duas técnicas para qualquer feitura de coisa útil. Dois: é um par em número e diversão. É um conjunto não-unitário e que denota uma esperança. É divisível por um e por ele mesmo, um número primo e par. E um número ímpar por isso. O único que é dois em um ao mesmo tempo. É um "bom encontro", é uma passarela de quadros e artes impossíveis de disjunção. É um beta-bloqueador simpático, amorfo, distonia perfecta em um. É o teclado de letras mil e um só pensamento para uma palavra. É uma tecla para o infinito. Quereria eu um dois. Ou duas. Duas vezes mil, duas vezes o ser humano, duas vezes a humanidade e todas as galáxias. Dois por um é dois. Dois por dois, um. É sempre assim quando se quer dois: caímos num jogo de um em dois para o sempre se eternizar perfeito. Dois, um. Um e mais. Duas pernas, dois braços, dois olhos e um coração. O ideal. E sem divisórias, pois o que se une e divide, não arma, não anda, não vinga: rasteja enfraquecido. O dois tem de ser inteiro, número inteiro, racionalmente inteiro e real. Um logarítmo de lógicas sensíveis, primo, par, indivisivelmente indivisível por ser um só, sem metade, sem carne lacerada, sem coração partido e sem mágoa. Sem que os cem fiquem sós. Ou virem sóis.
...
"E nós que nem sabemos quanto nos queremos
Que nem sabemos tudo que queremos
Como é difícil o desejo de amar
Você que nem me soube quanto eu quis
Que não coube, não me viu raiz
Nascendo, crescendo nos terrenos seus
Eu da janela olhando a lua, perguntando a lua -Onde você foi amar?
E nós que nem soubemos nos querer de vez
Estamos sós, laçados em dois nós
Um que é meu beijo o outro é o lábio seu
Não sei sair cantando sem contar você
Que eu sei cantar, mas conto com você
Que eu vou seguir, mas vou seguir você
Queria que assim sabendo se a gente se quer
Queria me rimar no seu colo mulher
Vencer a vida donde ela vier
Ganhar seu Chegar no chegar meu
Dar de mim o homem que é seu".
.
(Tadeu Franco - letra: Celso Adolfo)
.
[e lembro das tardes de violão com a doce e linda voz de minha mãe ao fundo cantando rouca e límpida essa que é uma das canções mais bonitas que existe... "estamos sós laçados em dois nós, um que é meu beijo o outro o lábio seu..."] .

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Em tese...

Outro dia uma amiga do interior, sabendo espertamente sobre minha monografia, perguntou-me sobre a temática pela qual me aporrinhei por meses a escrever. O título, nada esclarecedor, não ajuda a elevar minha alto-estima e egocêntrica vaidade. Claro, gozei-me, assim como minha amiga crítica literária, só de pronunciar o mote escolhido: Doenças de Acúmulo Lisossômico. -Hã?, disse ela e tantos outros que vieram indagar-me sobre pataquadas acadêmicas. Ao mesmo tempo que me gabava por um assunto tão microscópico, enchia-me de tédio olhar a estupefata cara de 'não entendi' da minha amiga tão interessada em trivialidades universitárias. A partir desse ponto, a conversa permeava-se de explicações, começando pela pergunta: - você sabe o que são lisossomos??? Caso a resposta fosse negativa, ia eu lá emprenhar-me de pensamentos biologísticos para esclarecer sobre esse orgânulo tão fundamental e visto somente ao microscópio eletrônico. Repetia: - lisossomos são um orgânulo citoplasmático que tem função de digestão celular. Quando positiva, já começava eu explanando sobre os malefícios que provocam a ausência de determinadas enzimas tão necessárias à degradação de subways, mc donalds e de todas as outras porcarias tão menos famosas e baratas que comemos em shoppings e biroscas diversas. E aí, pessoas do meu Brasil fantasmagoricamente varonil, quando aqueles hambúrgueres de minhoca com cheddar se acumulam nesses benditos e faltosos orgânulos, foi banda mel! Eles viram cada lisossomão! E isso traz um malefício absurdamente comprometedor para todo o corpo. Viram? não foi tão difícil e ardiloso assim.
Uma outra amiga minha, tão suficientemente paranóica com neurônios quanto Hannibal, trabalhou numa revisão sobre "o papel dos macrófagos da micróglia não-sei-fazendo-o-quê da esclerose múltipla". Provavelmente presepando, no mínimo, dentro das terminações nervosas do pensamento. Mas, a pergunta que não quer calar, ao ouvir esse tipo de tópico frasal é: - o quê?????. E nem adianta a cara de coerência de lier, fingindo um conhecimento de causa, pois não adianta. O que é mesmo micróglia???
Bem, caros colegas, a moral dessa história toda que vos apresento é, no mínimo, pitoresca. Não tenho idéia do porquê comecei a escrever toda essa joça sem nexo. E não tenho idéia do que seria a 'moral da história'. Acho que um pouco de picuínhas acadêmicas de conhecimento biologístico e médico nunca matou ningúem, né?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Os dizê que dizem tudo!

Minha amiga diz que eu escrevo besteira com muita competência. E, de fato, eu escrevo besteira. Só me falta a competência, coisa muito rara nesses tempos de pessoas superficiais, quase lacônicas. Outro dia um menino veio me paquerar. Tudo bem, eu adoro as criaturas de Deus com atitude, principalmente os caras-de-pau. A questão é que, mesmo com todos esses predicados cativantes para um jovem de 19 anos, faltou-lhe o espírito esportivo. Sabem aquelas pessoas que são engraçadas, fazem você achar graça dos pombos da praça da sé, mas que não suportam brincadeiras com elas? Acho que esse foi o maior dos empecilhos para um affair mais humorístico e envolvente entre nós dois. Enfim, uma pena. Quem mandou faltar a coisa mais importante hodiernamente? A competência é uma coisa que se adquire congenitamente ou não, ou então vem com a genética herdada de uma boa família. No meu caso, não tomei nenhuma porrada de competência in utero. Uma outra pena. Mas, voltando aqui ao assunto principal do dia, eu preciso registrar aqui uma certa competência das pessoas do interior. Uma dentre tantas, claro. E a que mais me agrada, porque revela a criatividade e sabedoria que as folhas e chás de mato verde ensinam.
Certa feita, eu estava com a pessoa que eu conheço que mais diz os 'dizê' que dizem tudo: meu tio. Ele é mestre em soltar uma frase de efeito em qualquer ocasião. Todo dia ele me acordava retumbando por todo o quarto e sala: - passarinho que não deve nada a ninguém, já está acordado faz tempo. E nisso ia toda a manhã. Outra ótima dele é a "quem foi e não é mais é o mesmo que nunca ter sido...". Essa até que foi bem inteligente. Eu não estou dizendo que esse povo dos 'interiôr' é bão nos dizê, sô?
Um outro episódio muito engraçado foi quando um amigo meu entrou na casa recém-pintada de um outro amigo nosso. As paredes estavam tão alvas quanto ele era preto. Na cachaça, ele acabou por sujar uma boa parte destas paredes. Sanbendo do ocorrido, um outro amigo verbalizou: - preto quando não caga na entrada, caga na saída.
Vocês já viram que pra tudo tem um ditado? Certa feita, um amigo estava comendo acarajé. Nesta mesma noite, numa caganeira danada, ele jurou nunca mais comer a bendita guloseima. Claro, para esse mote, um amigo gaiato gritou: - cachorro mordido por cobra tem medo de lingüiça. Nada mais pertinente que isso. Óbvio.
De quando em vez, nós saímos para tomar uma cerveja. Numa dessas aí, eu e as duas outras figuras da mesa contamos as parcas moedas de 25 centavos e compramos a cerveja mais barata da bodega. Num estalo, ocorreu-me de lembrar daquele célebre dito popular: - em tempo de guerra, urubu é frango. Só para conhecimento geral de causa, estávamos tomando glacial, apreçada em R$ 1,20. Se não me engano, deu pra tomar umas 7. Depois veio a outra baixo-astral dizendo: vocês só não bebem esmalte, porque tira o esmalte dos dentes! Será que era ruim o que a gente estava consumindo? É, como diria o velho ditado: "depois de meia-noite, mocotó é lombo".
E ainda tem aquele povo que adora sacanear os ditados. Outro dia um amigo meu me larga essa: - água mole em pedra dura, tanto bate até que acaba a água. Um outro, muitíssimo engraçado, falou que "em terra de cego, jacaré nada de costas". Ai, esse povo realmente não tem o que fazer! E tudo vira uma lição de vida, até limão, abacaxi, tudo isso pra parafrasear aquela do pepino: - se a vida te oferecer um pepino, descasque-o. Igualmente isso com o abacaxi. Mas, com o limão, a coisa muda um pouco, porque, "se a vida te oferecer um limão, junte açúcar, gelo, vodka e faça uma caipirinha". Claro, ninguém perderá essa chance.
Por conta disso, para os cachaceiros, não poderíamos deixar de relembrar as clássicas de bares, botequins e botecos, escritas com esmalte na porta do banheiro, ou batom em algum pedaço remendado com durepox de espelho suspenso na parede por um fio de barbante em algum prego mal batido. "eu bebo sim, estou vivendo. Tem gente que não bebe e está morrendo". Um clássico, uma música extremamente pertinente para os dias atuais. Porque "é melhor ser um bêbado conhecido do que um alcoolico anônimo". Ou então aquela, "Hoje é um dia bom para tomar cerveja. Amanhã também, e assim sucessivamente". As pessoas não têm mais o que fazer, repito! Outra interessante é aquela que até doença colocam no meio, como se isso fosse uma coisa bonita: "Mal por mal, é melhor ter o de Alzheimer que o de Parkinson, pois é melhor esquecer de pagar a cerveja do que derramar tudo no chão". Eu concordo plenamente com isso. Mas, como é melhor "antes morrer de vodka do que morrer de tédio", vamos encerrar o assunto etílico por hoje.
Em relação às frases comparativas, as melhores na minha modesta e nada expert opinião, vejo que as pessoas fuçam a cachola para que o invento saia o mais engraçado possível. Quase sempre o é, principalmente quando as comparações são totalmente inusitadas e incomparáveis, por assim dizer. "Você está mais enfeitado do que barraca de capeta"; "Você tá mais parado do que velho com reumatismo"; "Esse tá mais na seca do que língua de papagaio"; Sem falar nas metafóricas frases: "essa grita mais que sirene de ambulância"; "essa menina tá metida a biscoito".
E, para terminar os ditos do dia, relembremos os bichos e suas traquinagens que viram os 'dizê' bem ditos. "Homem é homem e gato é um bicho que bebe leite"; "passarinho que come pedra, sabe o cú que tem"; "siri que dorme n'água, onda leva"; "prá quem tá afundando, jacaré é toco". Essas aí, tudo bem, tem um sentido até. Mas tem outras que, Deus nos acuda: "zebra sem lista é cavalo"; "pássaro que acompanha morcego, morre de cabeça pra baixo"; "você é meu e boi não lambe". Sim, e o kiko? Bem, eu não entendi nada. Tá, algumas outros ditos são endereçados às mulheres, que os marmanjos insistem em proclamar, jactando-se de uma liberdade um tanto duvidosa: "esperto foi o pato, que já nasceu com os dedos grudados". Por falar em esperteza, tem aquela que diz que "esperto foi o gato, porque nasceu de bigode". Algum tradutor árabe, por obséquio? Mas, esperto mesmo foi o carangueijo. Ah, esse sim foi muito esperto, porque "anda de lado para tirar o cú da reta". Não é verdade?
E eu vos pergunto, amigos fantasmagóricos que assombram essas picuínhas virtuais de dizeres um tanto sui generis para a espécie humana: "O que é um peido pra quem tá cagado???"

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A EVOLUÇÃO DO PAGODE

Eu estou musical esses dias. Não estou ouvindo nada novo, pelo contrário: o forró povoa a minha cabeça durante o dia inteiro de todos os dias, mas não por opção e escolha. Só que ontem eu estava a pensar sobre as diversidades musicais de nosso cotidiano axesístico. Tudo é axe, constatei. Até mesmo Caê, nosso ilustre mago das músicas erudito-bregas. Não falemos de Caê, deixemo-lo lá junto à Canô e seus milhares de séculos acumulados em sorrisos e sabedoria. O mote aqui é o pagode e sua evolução melódica e expressionisticamente corporal. Que venha o pagode!
Primeiro, lembro-me vagamente de como eu o conheci. Não sei, acho que com o 'É o tchan' e 'Terra Samba', quando ainda o pagode era uma forma de satisfação da periferia doida por um tipo de festividade pura e simples. Falavam sobre coisas do cotidiano, brincadeiras de criança, o buzú lotado e o povo trabalhador de um remelexo ainda parcialmente desconhecido. Bem, o 'É o tchan' dava já os sinais de onde iríamos com toda essa vontade de quebrar as cadeiras, vinda de lá do "vai compreender que o baiano tem o diabo no quadril", com aquela do "bota a mão no joelho, dá uma agachadinha, vai mexendo gostoso, balançando a bundinha". Tá, mas eles também tocavam aquela da "estátua, pã!", "passa lorão, passa gordinha, quero ver você passar por debaixo da cordinha". Só que ele, enquanto 'Tchan', assim como outros tantos, não foi suficiente para evoluir o gênero musical mais contrabandeado ao incoompreensível e absurdo trimilique engendrado por letras mais que sexuais, quase naturalistas. Nesta época remota, não fazíamos nada além de sambar de todas as formas possíveis e inimagináveis: sambávamos como as cariocas da escola de samba, sambávamos no 'miudinho'; sambávamos pulando pros lados com as danças do harmonia do samba - joga pro lado e pro outro, pescocinho para frente, mexe a cabeça e o pescocinho, se movimente(...); largávamos os braços pra cima e pro lado, na dança do "tá bonito, tá bonito, trá trá trá, é a dança do esquisito(...)"; sambávamos pros lados, um de cada vez, claro, sem o pulinho desta vez, com aquela música "quem foi que disse que fusca não sobe ladeira? (...) tá vendo aê, aê, aê (...)". Parece uma quimera ainda em processo de concretização ideal toda essa vivência que os meus primos nascidos em século atual, com certeza, não terão a oportunidade nem de perceber.
Depois, com o barateamento dos instrumentos musicais básicos para um grupo de pagode - cavaquinho, pandeiro, tan-tan e repique -, alastrou-se uma onda de sonho dantes pertencente à nata da escola de música da Universidade Federal e dos cantores com o dom dos gogós afinados e competentes: era só pôr um óculos escuros na cabeça, botar uma roupa descolada, de preferência um bermudão longo no joelho, com um tênis sem meia e uma camiseta bem regata. Essa foi e está sendo a receita de bolo para o sucesso pagodístico da piatã e itaparica FM. Daí surgiu um tipo de pagode que falava sobre homens e mulheres, normalmente um dando um belo corno shakesperiano no outro, ou da mulher 'miseravona' que não dava bola pra um carinha com este tipo de vestimenta, ou sobre um cara todo cheio de marra. O estilo desse meio-termo era: dançarinos no palco, aos montes, requebrando mais que toda a confederação internacional das 'negas do leite'. Até aí, menos mal que hoje, porque ainda sambavam alguns minutos, entre uma quebrada de cadeira e outra. E, mesmo que parcas, ainda haviam umas morenas rechonchudas de coxa e bumbum, no meio de dois ou mais machos magrelas e de mola, tentando achar o espaço no próprio universo dantes feminino e impulsionadas pelos homens da platéia que ainda gostavam de ver mulher dançando um pagode suado. Eu só não sabia, caros amigos imaginários, que este era o princípio do fim da "sambadinha".
Alguns anos depois me veio um tipo de dancinha meio esquisita. Os pagodes continuaram a valorizar um tipo de criação letrística que se sente em meio à ditadura militar, onde os censores, de prontidão, tirarão a bendita música de circulação. Os "duplos-sentidos" das composições não são, com efeito, o problema, pelo contrário, são a parte criativa e que reverencio desde então. Contudo, os temas são os repetitivos e continuativos atos sexuais, partes íntimas, posições de cópula, entre outros aí tantos que nem o "kamasutra" foi capaz de criar. É um tal de "rala a tcheca no chão, rala a tcheca no chão(...)". E não venham me dizer que cataremos, em plena festa na península de itapagipe, na ribeira, uma Tcheca e ralemos a cara e todas as outras partes da infeliz azarada cidadã no chão! não é isso, ninguém é menino. Uma outra que faço questão em citar é aquela do pica-pau, cuja letra é:
"Eu já falei pra você Pra você, pra você não marcar toca, A sua garota cresceu Tá dando água na boca, Já não é mais criança, É uma gata no cio. O meu cachorro latiu, Já fiquei sabendo, Ela não assiste desenho do lobo mau, Ela agora só quer ver o desenho do pica-pau, Êêêê êêêê pica-pau...".

Realmente essa foi baixa: 'ela é uma gata no cio, meu cachorro já latiu'. De cortar o coração. Isso é um retrocesso à idade da pedra lascada. E bote lascada nisso. E cuidado vocês mamães e papais de todo o Brasil: cuidado com suas filhinhas, porque o cachorro de casa, esse aí de nominho gravado no potinho com raçãozinha cara, pode ser o primeiro. Claro, o primeiro sempre será um cachorro, não temos pra onde correr. Outra letra muito interessante e filha dos anais da ditadura, cujos censores passaram por despercebidos, foi aquela do tabaco: "Eu te avisei, você tá proibida de fumar, mas você não pode sentir o cheiro do tabaco (...) Desce com a mão no tabaco, sobe com a mão no tabaco". Alguns têm a teoria de que essa é uma grande música que vai de encontro ao poder manipulador e deletério da indústria do cigarro. Outras músicas se desviaram desse mote para um tipo de composição de protesto social contra essa estratificação e preconceito com os moradores da periferia: "Eu não aguento mais vou desabafar, embaçaram na quebrada ta sinistro de aturar, invadiram nosso gueto tiraram a paz e o sossego toda noite, todo dia(...). Tome baculejo, toma baculejo, da onde você vem, pra onde você vai, mão na cabeça rapaz, tô ligado, tô sabendo você que é do movimento eu quero ver o documento". Muito sério isso. Outra muito interessante desse movimento é: "Oh Maria, você pediu eu vou te dar, tá rolando, tá rolando, tá rolandotá rolando, tá rolando tá rolando tá, A calcinha que você pediu, uma é três, duas é cinco... A policia chegou, não precisar corre ê, a gente tá de boa e vamos resolver. Peraê, peraê, peraê, não é assim que se faz Abordando o cidadão, que não é ladrão. Eu sou camelô, me orgulho da profissão, saio pra batalhar atrás do meu pão, não precisar agredir, olha o que tenho em mãos, meu grito é de guerra quem quer comprar, tá rolando, tá rolando, tá rolando, tá rolando, tá rolando tá rolando tá".
E, pra fechar a situação musical do pagode em nossa sociedade, termino aqui com um clássico do Parangolé que, ao meu olhar de estudante, fala sobre uma certa patologia conhecida como hidrocele. Eu nunca vi uma música gozar com a cara de alguém portador de alguma doença. Essa, realmente, conseguiu furar os anais, ou melhor, os testículos do grande cúmulo que é a música popular brasileira, representado pelo gênero mais irreverente e sem-noção: o pagode. Uma 'selva' de palmas, por favor!
"Isso vai te curar, Ovo de Avestruz!
Ovão, Ovão, Ovão, Ovão, Ovão, Ovão, Ovão...
Que ovo é esse hamburguer? parece ate de avestruz, eu vou pedir para JESUS, para fazer uma operação e diminuir esse ovão.
Que ovo é esse hamburguer? da para fazer varios omeletes, maior que bolas de chiclete,
pega o alfinete pra furar e para rasgar usar gilete.
Que ovo é esse hamburguer? parece ovo de carote, ovo de jegue, ovo de bode
e quando anda se sacode, corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote, corrote ovo de carote
corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote, corrote e quando anda se sacode".

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Eu não aguento mais...

1) A ressaca
Primeiro falemos de uma coisa muito perigosa: a ressaca. Certamente ela foi trazida no século XVI com Cabral e as santa maria, pinta e nina. Porque a minha teoria é de que ela, a ressaca, grande entidade etérea e defesa sobrenatural do corpo contra o suicídio alcoólico, foi inventada, assim como este país de onde vos falo. Inventaram a ressaca como medida de ação limitante e coercitiva, quando (sabemos disso há muitos anos, desde o antigo Egito) o poder que o álcool pode exercer sobre um indivíduo se torna implacável e quase incontrolável. Não estamos aqui falando de acidentes automobilísticos, cornos indevidamente premeditados ou ocasionalmente acontecidos. Falamos de perder aquela barreira prontamente ativa que, segundo Freud, é construída necessariamente para a vida em comunidade: o superego. Ao perdê-lo, deixamos fluir as coisas mais inúteis, frustrantes e/ou alucinadas que pensamos e, na maioria das vezes, nem pensamos ou sabemos que existem. Então, a ressaca, neste sentido, é um fator importante no processo 'conviver em harmonia'. Mas, na maior parte do tempo, esse viver é estupidamente cansativo. E este empecilho limitante para a ingestão de maiores quantidades de álcool é, simplesmente, um absurdo e sem sentido. Eu penso que o corpo, assim como na construção do superego, poderia ter inventado outra defesa do tipo não-castigatória e estupidamente ineficaz para muitos. A ressaca, vejo aqui de lunetas, é um castigo divino, trazido pelos portugueses ao colonizar o Brasil. Então, culpemos também o catolicismo, oras! Assim como quem o trouxe para cá. Tão vendo? tudo culpa das caravelas! Maldita seja a escola de sagres.

2) Sucessos musicais
No vai e vem dos sucessos musicais, eu não aguento mais essas festividades juninas, cujas milhares de bandas em revezamento nos palcos de um mesmo perímetro, tocam o mesmo repertório. Os sucessos 'chupa que é de uva' e 'senta que é de menta' são garantidos até para as bandinhas de início recente e trios forrozeiros autointitulados pés-de-serra.
"Vem meu cajuzinho, Te dou muito carinho, Me dá seu coração, Me dá seu coração (...), Na sua boca eu viro fruta, Chupa que é de uva, Chupa, chupa, Chupa que é de uva".
É muita fruta pra chegar até uma uva, né? pensei nisso também. O caju e o morango, apesar de mais 'raros' e caros, perde de longe pra uva. Ouvi outro dia um outro tipo de 'chupe', só que este tinha a justificativa um pouco artificial: a coisa era de tuti-fruti. Minha amiga, a crítica literária, lançou uma ótima: lambe que é de inhame. E esta, caros amigos virtuais e fantasmagóricos, deveria ser o mote e preferência nordestinas, pois, este tubérculo de grande porte energético e histórica utilização medicinal, é um dos alimentos mais consumidos por essas bandas perto da linha do equador. Paciência, novamente os tuti-frutis e parreirais consumiram e aculturaram a grande massa nordestina. Outra peste de música que povoa esses forrós modernos é a paródia melodramática das músicas americanas. Meu deus, quanta disponibilidade dispensada para fazer muita merda. Realmente, isso corresponde a um grande assalto à boa música popular brasileira.
"Se não valorizar, com certeza cê vai me perder, embora eu te ame sim, eu juro não vou suportar (...), 
Amo, amo você ê, mas se não valorizar vai me perder ê ê ê ê...
Believe in that? This a Rihanna music!!! Oh, god, please! No comments.
Parafraseando Mao Tsé-Tung: lá viu?, lá deixe!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Arre, égua!

Perdoem-me, caros leitores de joão-ninguém, pelo mau português e erros de ortografia. Para os erros de concordância e blasfêmias eruditas, peço-lhes, imploro-lhes piedade. Bem, continuando a saga de teclar, hoje foi um dia muito interessante. Pra falar a verdade, ainda não sei mexer nesse blog. Tampouco sei o que escrever, como escrever, pra quem e o quê escrever. Em tese, escrevo. Em suma, prescrevo uma receita ao paciente invisível. Acho que meu blog não teve uma visita. Mas não importa, não preciso de visitas para a visualização de um obstáculo profundo de palavras incongruentes. Sim, continuemos a vida e o texto...
Há pouco avistei uma figura ilustríssima atrás de um trio elétrico dando voltas na praça pública, durante as comemorações juninas. Ela simplesmente estava trajada de uma blusa de alça cor preta com branca, tipo zebrinha, mas sem 'listras' (adooooro esta palavra!), com uma microssaia rosa clara. O mais legal desta roupa imponente é o tipo de calçado utilizado na combinação pitoresca. Simplesmete a mulher me põe uma bota até o ápice da patela, de cor marrom acinzentada, de bico fino, com um acabamento típico para vestes noturnas e invernísticas. Nada contra o traje, mas eu pensei em algo após ver essa criatura trajada de forma tão díspare para qualquer feito de Giorgio Armani. Infelizmente, na nossa simplérrima e sofisticada sociedade de consumo ininterrupto, a moda nos dita o que vestir, comer e dormir. Caso seu pijama não for de seda, ou viciado em costura manual, ou com um design arrojado e moderno, esqueça as noites de amor e gozo infinitas: você estará fadado(a) ao fracasso dominical, matinal, semanal... pois, se o seu marido ou esposa não vir alguma 'marca' no seu pijama, será batata: não se escutarão mais os segredos de liquidificador. Morreremos, certamente, de algum tipo de cisto peniano, ovariano, uterino, vaginal, de tanto néctar preso por não se ter o catalisador das delícias voluptuosas e inerentes aos seres humanos providos de gônadas e gônados (não sejamos preconceituosos, ora!). A menina trajada, voltando ao assunto, com certeza foi fisgada pela moda implacável. Ela nunca poderia deixar de ter uma bota daquelas, oras, que de tão cara, deve ter custado-lhe o resto da vestimenta combinativa para a felicidade dos que vêem e entendem de modística. O que era mais horrível disso tudo, era a forma de como as pessoas transmitem corporalmente o tipo de roupa ou combinação que vestem. Uma coisa é saber o que se veste, o porquê, o onde; outra, é, simplesmente pelo mandatório da nobreza sem possuir o bendito sangue azul do dólar eurístico, abusar de um bem tão nada a ver com a destreza e simplicidade que a pessoa explicita. Tá vendo que isso fica feio, menina? Não por você não ser merecedora da bota de bico fino de marfim, mas por você destacar a própria individualidade nesses crédulos e efêmeros dizeres de outrem que se julgam os senhores fazedores da inclusão social e beleza. E, através deste destaque, parecer mais uma réplica de 'coisa feia' do que sósia de modelos internacionais.
A menina, mesmo com a bota marrom acinzentada, era muito bonita. Ela tinha o cabelo preto, ondulado, tinha a pele marrom, cor de brown, o que é uma redundância feliz e poética. Nada disso vi quando a avistei do momento primeiro. E, com certeza, a segunda impressão é o que ela tem de melhor em meio às adversidades ilusórias de cores e objetos valorados erroneamente. Somente que, muitos homens e mulheres que lá se divertiam, com certeza não a viram deste jeito. Realmente, uma pena!

domingo, 22 de junho de 2008

Agora, pronto!

Eu fico agora o dia inteiro a pensar o que postarei nessa merda de blog. Puta que pariu, essa coisa não me dá descanso! Mas, entre mote e sai mote, eu percebo que o mundo é mais que um simples pincel e a nossa vida uma tela em branco. Eu pensei hoje em falar sobre as músicas de forró, mesmo que absurdas e sem sentido, sobre as dançarinas de calcinha preta, ou as back vocals de zezé di camargo e luciano. Só que agora abateu-me um tipo de sentimento tosco e frio, sabe? daqueles que se tem só quando se fala de política e politicagem. Hoje foi um dia decisivo para minha pessoa tosca e fria: mil vezes uma 'selva' de palmas para a incompreensão. E para a ilusão também, tão citada entre os discursos ferozes de coligação iminentes. Eu queria que tudo nesse mundo, inclusive as relações interpessoais fossem puras, no mais simples querer e querer-se. É, vejo que estou errada. Estou errada quanto a querer que as coisas sejam feitas de uma forma democrática e beneficiária à maioria. Só que não existe isso infelizmente.
Deixo-me no texto e com a plena convicção de que não posso mais escrever algo linearmente. E tampouco posso inferir às não-alianças a salvação da humanidade pequena e insossa, de um interior insosso e imberbe de trâmites mais que duvidosos.
Please, give me a break.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

E no interior do interior...

Tenho uma amiga que é crítica literária. Ela goza só em proferir sua função e formação sócio-egoísticas. Eu pedi ajuda na avaliação quanto à utilidade e futuro brilhante e possível para este blog e escritora, respectivamente. Primeiro, ela intitulou-me desta forma lânguida; segundo, habituei-me a não contrariar palavras sábias de academicistas e donos das verdades incontestes de nossa rica e bela sociedade. Em suma: tenho uma amiga que é crítica literária. Agnosticamente literária.
Mas, pra conversar sobre o interior do interior, fiz-me uma pergunta boba. E a observação a que me foi reservada, não teve lá muito êxito e competência para se fazer verso ou prosa. Ela apenas povoa essa virtual realidade por não ter mais para onde ir. Essa coisa é simplesmente uma órfã de chão e que se alberga para se fazer existir agora e sempre, onde houver memória RAM e pessoas de direcionados cliques e clichês.
Bem, hoje eu estava a observar a vida como ela é. Antigamente, eu conhecia um monte de gente. Agora, os amigos se resumem a lacônicos colegas e os colegas resumem-se a meros e efêmeros conhecidos. Amigo, amigo mesmo, aquele que é pau pra toda obra e hora, desses de rocha, esses não existem mais. Não sei, tentei achar uma explicação em meio a cervejas e músicas de calcinha preta enquanto degustava um pastel de presunto e queijo na praça de eventos. Obviamente eu não consegui pensar em nada útil neste último dia útil da semana. Parei meus olhos em ptose no outro lado da rua, numa casinha de cor alaranjada. Avistei uma ruma de homem que bebia utilmente neste dia útil e internacional de comer água. Todos ali, percebo num dado momento lacônico de pensar em algo, em plena confraternização fraternal, são casados ou bem relacionados com suas respectivas. No entanto, as respectivas não se encontravam em lugar nenhum outro de socialização e bem-estar coletivos. Parece até que a vida foi feita para os homens morrerem com muitos amigos e, as mulheres, de misantropia adquirida. Foi um fato simples: perguntei por onde andavam as tenras e queridas comedoras de água do antigo casarão, das caiporas do bloco das 'elas sem eles', das azuadas meninas do outro regue dos anos passados. Todas elas, amigos-colegas-conhecidos, estavam em casa cuidando dos filhos ou dos maridos e namorados que chegariam embriagados e sedentos por um caldo de feijão acompanhado por um café bem forte e sem açúcar. O que tornaram esses homens e mulheres bem relacionados uns com os outros? Por que diabos, os sexos são tão determinantes para uma vida de amizades e bebedeira entre outra, e tão perto, de labuta com panelas e ralos de pia sujos de restos de comida e palitos de fósforos usados? Aqui, onde me encontro e desencontro com o pensamento solto e permeado de cerveja barata, vejo que a própria repressão do ser masculino é um diálogo violento e incrustado no ar e que não se pode ir de encontro. O que seriam das mulheres que se dispusessem a indagar contra o ser cobiçado e salvador de sua exclusão permanente, cujo passar do tempo é tão implacável em cravar a ferro em sua epiderme dantes lânguida e ricas em proteoglicanos? Como se pode não aceitar que o ser humano idolatrado e dominante, que pode livrá-la de uma solitária velhice irreversível e infeliz, não pode repreendê-la enquanto ele puder e quiser? Todas aquelas que se dispuseram a romper com naus e caravelas rumo ao descobrimento, eu conheci. Elas tiveram seus destinos jogados num trágico trem para um lugar distante, onde não pudessem chamá-las raparigas, putas ou ladronas. É, porque agora, além de serem tachadas de putas, as mulheres ganharam um novo pedestal de humilhação: ladrona. E sobem ao pódio as que chegam em primeiro lugar, após ultrapassarem esses pedantes e excludentes seres humanos que dizem ter um pênis entre as pernas. Do pênis, eu nem duvido que os tenha de fato. Porque, para redenção e solução para esse estado humilhatório, não é duvidar da existência, tampouco culpar a outra cabeça.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um, dois, três...

... e já!
não?

as palavras iniciais pra essa atitude: crente do cú quente!

e por aí vão os pensamentos soltos de uma frase ridícula de uma infância por demais vivida de um jeito descontraído. Mas qual o objetivo dessas palavras perdidas no tempo? reflexão, autopiedade e saudosismo? não, apenas uma vontade de dizer virtualmente para o ninguém oculto que a vida passou e que os crentes dos cús quentes não são mais uma realidade distante. Eles estão por toda parte, inclusive nos arredores de cilindros viciados e fumegantes. Eu bem que tento escrever algo útil e sério, mas eu não agüento o cotidiano que nos cerca, entupido de hipocrisia e descaração. Estamos agora em início das festividades de inverno do país mais quente da américa latina. Forró!, esse é o ritmo. Pros interioranos, o mais mela-cueca de todos. Nem arrocha bate esse fervor nordestino que se perdeu entre trumpetes e baterias eletrônicas, enquanto há um detrimento do bom e velho zabumba no chão batido de terra vermelha. Alguém por acaso já viu o funcionário mais importante desses arraiás? Ele fica com um balde de água numa bacia de plástico, geralmente azul e redonda, e, com a mão em concha, joga água atrás do casal mais fuzuento e dançarino, que levanta aquela poeira retada de vermelha e rinitente. Ele se tornou uma lenda viva na memória dos que gostam do mais mela-cueca de todos os ritmos.

Pra não dizer que não falei das muambas da minha infância, eu tive um cachorrinho que latia, sentava, ficava de pé, sentava de novo e depois dava um mortal de costas. Outra coisa importante foi a coleção da boneca Barbie. Percebi ali, durante meus 6 ou 7 anos, que minha mãe só tinha me dado 1 Ken para todas elas. Porque só havia um Ken para todas as versões loira, ruiva e daquela com cabelo arrepiado por possuir uma ferrari conversível. Isso ficou incrustado em minha cabeça anos a fio, até perceber que a sociedade é machista e influente de fato. Desconstrui isso, graças às tardes de cerveja no boteco de São Lázaro. E também devo essa empreitada de demolição do aprendizado burguês com as bonecas de infância às brigas que tive com minha avó. Ela foi, sem dúvida, uma pessoa muito importante e que me mostrou a utilidade do fogão, pia e caminho para o supermercado enquanto meu irmão dormia até meio-dia do dia. Minha história é bem mais drástica do que a dos meninos coreanos que trabalham mais que uma jornada de puro trabalho escravo diário. Por isso ela está aqui neste blog, onde, através desta WordWideWeb, pode ser lida pelos virtualmente presentes em lugar nenhum.

Uma consideração final a ser feita, é sobre a frase inicial deste blog. "Os crente do cú quente". Minha amiga disse que meu primo tem cara de crente. É, definitivamente, quem vê cara, não vê o que temos no meio das nádegas.