domingo, 22 de novembro de 2009

Trigo.

Um olhar é mais que intrigante e irreversível para o que se pensa posteriormente. Um olhar, dois olhares, três... e assim vai o dia todo, entre olhares entreolhando-se, olho no olho, uma coisa meio louca e incontavelmente incontável. É bom isso, o frio na barriga desperta o corpo meio introspectivo ao som de algum acorde impensado. O que se faz depois? nada. Pára-se o parabrisa molhado, cheio de gotas apartadas pelo limpa-vidros. Elas não sabem, mas quando olhas para dentro do espectro de cores dentro delas, o olho reflete-se no meu parado, esperando a mira certeira do sim. Engraçado, intrigante, introspectivo e absolutamente lindo: os olhos entregam-nos. Para quem, ainda não sabemos. Para quê, então, nenhum rastro de ideação ilusória para resgatar as respostas. Simplesmente hoje, não sei bem o porquê (aliás, nunca o sei, é infinito isso), o sentido no seu olhar fez do meu sono e sonhos não quererem acordar-me neste domingo ensolarado.

sábado, 14 de novembro de 2009

O melhor dia do ano.

Ontem foi o meu melhor dia do ano. As coisas mais simples foram feitas, as mais chatas, resolvidas, as mais bestas, vividas com riso e sorvete da Mc Donald's. Soube ontem que amigos existem, mas que muitos não estão tão aí pra você no momento mais crítico, enquanto outros, mesmo com sono e de saco cheio do dia atarefado, fazem o possível e o impossível para agradá-lo, ver seu sorriso aflorar em rios de lágrimas de alegria. E, muito mais do que meu dia perfeito, foi o meu abraço e cheiro perfeitos, o som da voz doce e forte de quem sabe o que é música de verdade. E a faz com clareza e sinceridade, com o vício interior de soltar-se inteira para o mundo perceber o quão frágil é a existência, o quão simples são certas coisas, o quão duro e feio somos às vezes. Música é minha vida também. Foi meu primeiro amor, é minha segunda profissão, é minha casa favorita. E quando amo algo, amo do bom e do melhor. Sem querer jactar-me de bom gosto, mas o dia perfeito foi feito por causa do acaso, da minha escolha inusitada, da música que amo e gosto de ouvir pois a preferi em algum momento da vida. A saída sem pretensão, sem planos, um bilhete por acaso. O show perfeito, a chuva a molhar-me os cabelos escovados, os pisões e tropeços de muitos outros fãs em euforia, assim como eu, que ouvia e via serenamente e ferozmente a voz linda com palavras fáceis e poéticas. No fim, mais uma coisa inusitada: a simplicidade dantes estampada no palco, bem rente aos nossos pés, pisando o mesmo ladrilho do calçamento da saída do pátio. Mesma altura, mesma chuva e água mineral. Foi de uma nobreza aquele ato impensado, mas que me deu na telha pedir e que com um sim, fui agraciada em mil maravilhas e alegrias. Acho que ser artista é isso, é encontrar-se em todos os cantos, com todos os encantos próprios, com os outros que respeitem o que se escreve e canta; é estar no mesmo patamar após um cântico, com o inusitado, um abraço, um obrigada por fazer do meu dia, o melhor dia e mais perfeito deste ano que se enfim finda iluminado.