sexta-feira, 20 de junho de 2008

E no interior do interior...

Tenho uma amiga que é crítica literária. Ela goza só em proferir sua função e formação sócio-egoísticas. Eu pedi ajuda na avaliação quanto à utilidade e futuro brilhante e possível para este blog e escritora, respectivamente. Primeiro, ela intitulou-me desta forma lânguida; segundo, habituei-me a não contrariar palavras sábias de academicistas e donos das verdades incontestes de nossa rica e bela sociedade. Em suma: tenho uma amiga que é crítica literária. Agnosticamente literária.
Mas, pra conversar sobre o interior do interior, fiz-me uma pergunta boba. E a observação a que me foi reservada, não teve lá muito êxito e competência para se fazer verso ou prosa. Ela apenas povoa essa virtual realidade por não ter mais para onde ir. Essa coisa é simplesmente uma órfã de chão e que se alberga para se fazer existir agora e sempre, onde houver memória RAM e pessoas de direcionados cliques e clichês.
Bem, hoje eu estava a observar a vida como ela é. Antigamente, eu conhecia um monte de gente. Agora, os amigos se resumem a lacônicos colegas e os colegas resumem-se a meros e efêmeros conhecidos. Amigo, amigo mesmo, aquele que é pau pra toda obra e hora, desses de rocha, esses não existem mais. Não sei, tentei achar uma explicação em meio a cervejas e músicas de calcinha preta enquanto degustava um pastel de presunto e queijo na praça de eventos. Obviamente eu não consegui pensar em nada útil neste último dia útil da semana. Parei meus olhos em ptose no outro lado da rua, numa casinha de cor alaranjada. Avistei uma ruma de homem que bebia utilmente neste dia útil e internacional de comer água. Todos ali, percebo num dado momento lacônico de pensar em algo, em plena confraternização fraternal, são casados ou bem relacionados com suas respectivas. No entanto, as respectivas não se encontravam em lugar nenhum outro de socialização e bem-estar coletivos. Parece até que a vida foi feita para os homens morrerem com muitos amigos e, as mulheres, de misantropia adquirida. Foi um fato simples: perguntei por onde andavam as tenras e queridas comedoras de água do antigo casarão, das caiporas do bloco das 'elas sem eles', das azuadas meninas do outro regue dos anos passados. Todas elas, amigos-colegas-conhecidos, estavam em casa cuidando dos filhos ou dos maridos e namorados que chegariam embriagados e sedentos por um caldo de feijão acompanhado por um café bem forte e sem açúcar. O que tornaram esses homens e mulheres bem relacionados uns com os outros? Por que diabos, os sexos são tão determinantes para uma vida de amizades e bebedeira entre outra, e tão perto, de labuta com panelas e ralos de pia sujos de restos de comida e palitos de fósforos usados? Aqui, onde me encontro e desencontro com o pensamento solto e permeado de cerveja barata, vejo que a própria repressão do ser masculino é um diálogo violento e incrustado no ar e que não se pode ir de encontro. O que seriam das mulheres que se dispusessem a indagar contra o ser cobiçado e salvador de sua exclusão permanente, cujo passar do tempo é tão implacável em cravar a ferro em sua epiderme dantes lânguida e ricas em proteoglicanos? Como se pode não aceitar que o ser humano idolatrado e dominante, que pode livrá-la de uma solitária velhice irreversível e infeliz, não pode repreendê-la enquanto ele puder e quiser? Todas aquelas que se dispuseram a romper com naus e caravelas rumo ao descobrimento, eu conheci. Elas tiveram seus destinos jogados num trágico trem para um lugar distante, onde não pudessem chamá-las raparigas, putas ou ladronas. É, porque agora, além de serem tachadas de putas, as mulheres ganharam um novo pedestal de humilhação: ladrona. E sobem ao pódio as que chegam em primeiro lugar, após ultrapassarem esses pedantes e excludentes seres humanos que dizem ter um pênis entre as pernas. Do pênis, eu nem duvido que os tenha de fato. Porque, para redenção e solução para esse estado humilhatório, não é duvidar da existência, tampouco culpar a outra cabeça.

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