quinta-feira, 31 de julho de 2008

Noves fora zero.

Não saber o mal do mundo.
Não saber o que se sente e o que se quer.
É puramente um não saber mesmo,
Sem dor de ouvido,
Sem zumbido no pensamento.
Mesmo que te achem chato ou ridículo,
que o som do não dito seja alheio,
seja feio ou dorido:
o não sei é sempre o mesmo feito.
Não saber se peca o espanto,
se se nega o santo,
se se entrega ao encato;
se o pote está cheio,
se o copo é alheio:
visto-me das palavras incertas
e do meu imprevisto não quisto.
Não sei.
Nunca saberei se não o viver,
se não ocorrer a luta da indecisão.
E, ainda assim, quero vivê-lo intensamente,
para mesmo saber que não sei,
para ver se não sei,
e ter o breve encanto de se sentir vazio
de razão e direção.


[... quero a guanabara, quero o rio nilo, quero tudo ter, estrela, flor, estilo, tua língua em meu mamilo, água e sal. Nada tenho, vez em quando, tudo. Tudo quero mais ou menos quanto. Vida, vida, noves fora, zero. Quero viver, quero ouvir, quero ver...
Zeca Baleiro - Bandeira.]