sábado, 16 de agosto de 2008

Um brinde!

É engraçado como às vezes a gente se apega a umas coisas engraçadas. Outro dia, entre as idas e vindas pelas noites e tardes de Salvador, conheci algumas pessoas. Claro, uma ou outra, a depender do seu estado de espírito e do estado de espírito alheio, uma química falante acontece. Mas, geralmente, quando percebo uma impressão diagnóstica de holocausto à vista, profiro a sutil pergunta ininteligível - qual é o teu signo??? (pausa longa). A resposta, claro, é coincidentemente a mesma: - leão; ou, - gêmeos; ou, - capricórnio. Depois de alguns goles de cerveja e falas desconexas, reflito sobre a pergunta idioticamente abrupta: um gosto amargo de crença pobre terceiro-mundista abate meus olhos fechados. A resposta poderia ser qualquer uma das outras 9 possibilidades do zodíaco, assim como a pergunta do meu ser idiossincrático poderia ter sido outras mil quaisquer. Na realidade, pareço um profeta zodiacal fazendo um banco de dados para um projeto de pesquisa com bolsa no cnpq. É duro perceber isso, porque me prendo a uma realidade que desconheço e nem acredito tanto quanto é a sinceridade da pergunta. Eu daria tudo para ver as minhas caras quando a reposta ocorre na direção de um desses 3 signos perturbadores. Solto um - affffff, ou um - ah, percebi... ou até um - deus é mais!!! As pessoas ficam meio pasmas, perguntam sempre - por quê??? o que tem de errado???, e nada muda após esse momento, porque eu não tenho essa estatura literária necessária para uma resposta consistente e 'cientificamente' explicativa. Mas o que importa aqui agora, é essa tal de coincidência persecutória que me deixa um tanto criativa quanto às faces de espanto ou desilusão.
A coincidência, caros e fantasmagóricos amigos, é uma entidade onipresente, onisciente, onipotente. Um deus, portanto. Não é palpável, mas se torna criatura em milésimos de segundo quando ocorre. Se tem uma coisa mais sem explicação e sem nexo que me atordoa, é essa tal de coincidência. É um absinto ilusório pra eu achar que a vida é um filme com seu início por escolha de dois seres humanos, e que terá seu fim imutável com a chegada da senhora de vestimenta grã e foice empunhada. Tantas delas, engraçadas ou não, vêm para dar um "up" em vidas de sabor duvidoso que, mesmo insosas, invadem algum tipo de universo paralelo e alcança os grãos-mestres donos de açúcares encantados.
Não tão assim correspondente à freqüência da coincidência, ocorrem também aqueles ditos "déja vu". Tantos desses são um indicativo de que existe uma tal mediunidade inerete aos seres superiores clarividentemente sensíveis ou um mau funcionamento sináptico dos neurônios cerebrais. Eu fico aqui me perguntando o porquê desses curtos-circuitos no cérebro de um ser humano que nem sabe responder de onde ele veio, pra quê ele veio e pra onde ele vai. É meio sacana e ao mesmo tempo elucidativo, intrigante. A explicação que tenho é de que o ser humano precisa de um tipo de estímulo, oculto ou de curto, para que não se trave numa só realidade imensurável e excludente. Existir é realmente muito difícil. Pensar que nascemos nós de um óvulo junto a um espermatozóide campeão de corrida "in utero", desabrochamos de um punhado de células microscópicas e nos tornamos assim, bonitos ou feios, altos ou baixos, simpáticos ou arrogantes, sorridentes ou tristes, é de uma divindade extrema. É cientificamente imponente. E ainda, essas mesmas células zigóticas brindam com um curto-circuito ou clarividência o seu fruto. Realmente magnânimo. Estrogonoficamente fantástico. Um brinde à realidade da vida com curto ou sem curto.