quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Soterópolis!

Vivi 12 anos de minha vida aqui. Eis agora, neste momento, que me despeço da minha cidade. Digo minha, pois eu a abraçei com todo o meu entusiasmo de moleca recém-chegada do interior da Bahia. Troquei o rio pelo mar, as serras e cheiro de terra molhada pelas ladeiras e asfaltos dessa grande e bela cidade. Troquei minha casa por pensionatos e repúblicas, amigos por recém-conhecidos, pessoas que foram e vão-e-vem na nossa vida. Troquei tudo: de roupas, de hábitos, de colchão. Lembro-me como se fosse hoje, logo na primeira semana que aqui cheguei, indo à loja da ortobom na avenida Joana Angélica, comprar meu primeiro colchão da Soterópolis. Eu nunca me imaginei nessa cena, retirando sessenta e poucos reais da carteira, como gente grande. É, eu havia crescido após uma noite no ônibus da Real Expresso, com lágrimas nos olhos, com saudades da minha mãe, irmãos, tios e avós. Lembro-me de quando acordei na rodoviária, um monte de gente esquisita, correndo pra todos os cantos, à procura de carrinhos para levar suas bagagens. Lembro-me de que eu desci, vendo toda aquela correria, com um milhão de malas para dar conta, com um sonho na cabeça, toda mirradinha e cheia de casacos pelo frio do ar-condicionado recém-desligado na estação. Engraçado, passaram-se 12 anos. Muitas coisas aconteceram. Fiz amigos de verdade, inimigos, chorei por alguns, outros me fizeram chorar, sumindo da minha vida. E cá estou eu, com meu sonho realizado, despedindo-me da cidade que eu escolhi para ser a 'minha cidade'. Sentirei falta do pôr-do-sol do Porto da Barra, das luzes da Cidade Baixa que dá pra ver só de passar pela avenida Contorno de ônibus. Sentirei falta do Rio Vermelho, meu querido bairro, com sua boemia noturna, seus beijus, acarajés e cervejas caras. Sentirei falta da minha casa, do meu irmão que deixo aqui perseguindo o sonho dele, que é meu também. Dos amigos, nem se fala. Eu fui muito abençoada pelos Santos e Orixás dessa terra, não tenho do que me queixar. Muitas pessoas boas, magníficas, passaram para tomar 'uma' no play do meu condomínio, tocaram violão no meu sofá. Despeço-me daqui com lágrimas nos olhos, com saudades de muita coisa, mas também com vontade de futuro, com pressa para conhecer outros lugares, outras gentes. A Soterópolis foi muito importante na minha vida. Fiz a escolha certa, eu sei disso. Hoje, volto para mais perto do meu Velho Chico, trocando mais uma vez o mar pelo rio, a certeza pela incerteza, descendo novamente em alguma rodoviária 'desconhecida', cheia de gente esquisita, mas com menos pressa, é certo. Obrigada, Soterópolis. E que os Santos e Orixás sempre abençoem essa terra boa que é a Bahia.

"...It must have been love but it’s over now
It must have been good but I lost it somehow
It must have been love but it’s over now
From the moment we touched til the time had run..."
[It must have been love, Roxette. Música que eu ouvi quando saí de Ibotirama em 1998.]

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ratificando...

Impressionantemente abalável, inflável, com gosto de mel e ressaca de mar revolto.
Não quero mais nenhum tipo de sentimento 'ilhado, amordaçado', típico de defundo defumado.
Sinto agora a maior derrota de toda a fortaleza destroçada: bastilha incontestavelmente
abduzida e 'inconstruída' dos meus sonhos,
certeza bizarramente inconclusa e triste dos meus dias.
O que fez tudo isso em mim? Um grande nada aberto, pois só um sem sabor e desalento
pra machucar alma pura, aberta e certa.
Nunca vi nada errante desde a última vez.
É a última vez, certamente. Sempre será, até que o dia de esvair-se em coisa alguma,
que se chamara 'sonho, homem, estrada, viagem de ventania'.

Absorto-me.