Minha amiga diz que eu escrevo besteira com muita competência. E, de fato, eu escrevo besteira. Só me falta a competência, coisa muito rara nesses tempos de pessoas superficiais, quase lacônicas. Outro dia um menino veio me paquerar. Tudo bem, eu adoro as criaturas de Deus com atitude, principalmente os caras-de-pau. A questão é que, mesmo com todos esses predicados cativantes para um jovem de 19 anos, faltou-lhe o espírito esportivo. Sabem aquelas pessoas que são engraçadas, fazem você achar graça dos pombos da praça da sé, mas que não suportam brincadeiras com elas? Acho que esse foi o maior dos empecilhos para um affair mais humorístico e envolvente entre nós dois. Enfim, uma pena. Quem mandou faltar a coisa mais importante hodiernamente? A competência é uma coisa que se adquire congenitamente ou não, ou então vem com a genética herdada de uma boa família. No meu caso, não tomei nenhuma porrada de competência in utero. Uma outra pena. Mas, voltando aqui ao assunto principal do dia, eu preciso registrar aqui uma certa competência das pessoas do interior. Uma dentre tantas, claro. E a que mais me agrada, porque revela a criatividade e sabedoria que as folhas e chás de mato verde ensinam.
Certa feita, eu estava com a pessoa que eu conheço que mais diz os 'dizê' que dizem tudo: meu tio. Ele é mestre em soltar uma frase de efeito em qualquer ocasião. Todo dia ele me acordava retumbando por todo o quarto e sala: - passarinho que não deve nada a ninguém, já está acordado faz tempo. E nisso ia toda a manhã. Outra ótima dele é a "quem foi e não é mais é o mesmo que nunca ter sido...". Essa até que foi bem inteligente. Eu não estou dizendo que esse povo dos 'interiôr' é bão nos dizê, sô?
Um outro episódio muito engraçado foi quando um amigo meu entrou na casa recém-pintada de um outro amigo nosso. As paredes estavam tão alvas quanto ele era preto. Na cachaça, ele acabou por sujar uma boa parte destas paredes. Sanbendo do ocorrido, um outro amigo verbalizou: - preto quando não caga na entrada, caga na saída.
Vocês já viram que pra tudo tem um ditado? Certa feita, um amigo estava comendo acarajé. Nesta mesma noite, numa caganeira danada, ele jurou nunca mais comer a bendita guloseima. Claro, para esse mote, um amigo gaiato gritou: - cachorro mordido por cobra tem medo de lingüiça. Nada mais pertinente que isso. Óbvio.
De quando em vez, nós saímos para tomar uma cerveja. Numa dessas aí, eu e as duas outras figuras da mesa contamos as parcas moedas de 25 centavos e compramos a cerveja mais barata da bodega. Num estalo, ocorreu-me de lembrar daquele célebre dito popular: - em tempo de guerra, urubu é frango. Só para conhecimento geral de causa, estávamos tomando glacial, apreçada em R$ 1,20. Se não me engano, deu pra tomar umas 7. Depois veio a outra baixo-astral dizendo: vocês só não bebem esmalte, porque tira o esmalte dos dentes! Será que era ruim o que a gente estava consumindo? É, como diria o velho ditado: "depois de meia-noite, mocotó é lombo".
E ainda tem aquele povo que adora sacanear os ditados. Outro dia um amigo meu me larga essa: - água mole em pedra dura, tanto bate até que acaba a água. Um outro, muitíssimo engraçado, falou que "em terra de cego, jacaré nada de costas". Ai, esse povo realmente não tem o que fazer! E tudo vira uma lição de vida, até limão, abacaxi, tudo isso pra parafrasear aquela do pepino: - se a vida te oferecer um pepino, descasque-o. Igualmente isso com o abacaxi. Mas, com o limão, a coisa muda um pouco, porque, "se a vida te oferecer um limão, junte açúcar, gelo, vodka e faça uma caipirinha". Claro, ninguém perderá essa chance.
Por conta disso, para os cachaceiros, não poderíamos deixar de relembrar as clássicas de bares, botequins e botecos, escritas com esmalte na porta do banheiro, ou batom em algum pedaço remendado com durepox de espelho suspenso na parede por um fio de barbante em algum prego mal batido. "eu bebo sim, estou vivendo. Tem gente que não bebe e está morrendo". Um clássico, uma música extremamente pertinente para os dias atuais. Porque "é melhor ser um bêbado conhecido do que um alcoolico anônimo". Ou então aquela, "Hoje é um dia bom para tomar cerveja. Amanhã também, e assim sucessivamente". As pessoas não têm mais o que fazer, repito! Outra interessante é aquela que até doença colocam no meio, como se isso fosse uma coisa bonita: "Mal por mal, é melhor ter o de Alzheimer que o de Parkinson, pois é melhor esquecer de pagar a cerveja do que derramar tudo no chão". Eu concordo plenamente com isso. Mas, como é melhor "antes morrer de vodka do que morrer de tédio", vamos encerrar o assunto etílico por hoje.
Em relação às frases comparativas, as melhores na minha modesta e nada expert opinião, vejo que as pessoas fuçam a cachola para que o invento saia o mais engraçado possível. Quase sempre o é, principalmente quando as comparações são totalmente inusitadas e incomparáveis, por assim dizer. "Você está mais enfeitado do que barraca de capeta"; "Você tá mais parado do que velho com reumatismo"; "Esse tá mais na seca do que língua de papagaio"; Sem falar nas metafóricas frases: "essa grita mais que sirene de ambulância"; "essa menina tá metida a biscoito".
E, para terminar os ditos do dia, relembremos os bichos e suas traquinagens que viram os 'dizê' bem ditos. "Homem é homem e gato é um bicho que bebe leite"; "passarinho que come pedra, sabe o cú que tem"; "siri que dorme n'água, onda leva"; "prá quem tá afundando, jacaré é toco". Essas aí, tudo bem, tem um sentido até. Mas tem outras que, Deus nos acuda: "zebra sem lista é cavalo"; "pássaro que acompanha morcego, morre de cabeça pra baixo"; "você é meu e boi não lambe". Sim, e o kiko? Bem, eu não entendi nada. Tá, algumas outros ditos são endereçados às mulheres, que os marmanjos insistem em proclamar, jactando-se de uma liberdade um tanto duvidosa: "esperto foi o pato, que já nasceu com os dedos grudados". Por falar em esperteza, tem aquela que diz que "esperto foi o gato, porque nasceu de bigode". Algum tradutor árabe, por obséquio? Mas, esperto mesmo foi o carangueijo. Ah, esse sim foi muito esperto, porque "anda de lado para tirar o cú da reta". Não é verdade?
E eu vos pergunto, amigos fantasmagóricos que assombram essas picuínhas virtuais de dizeres um tanto sui generis para a espécie humana: "O que é um peido pra quem tá cagado???"
Um comentário:
Ri do início ao fim! hehehehehe...
Me senti numa mesa de bar com você, amiga! E foi tão bom! :D
Saudades!
Beijos!
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