domingo, 22 de fevereiro de 2009

Outros tempos.

Folia certamente é um espaço virtual e gigantemente distante do meu mundo agora. Virá impávido, será cálido e inválido toda essa virtude de querer uma alcatéia de palavras vãs. Eu quero agora é estar, ser um não-dito, um palavrão aflito vagando pelo céu da boca de um vaga-lume. A ira realmente é a piedade que os homens tem de si mesmos.
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Vagando na escuridão deserta de uma noite cheia de estrelas distantes, vi a penumbra de uma alma fria a vagar na imensidão. Pelos gestos, um homem; pela divindade da pele negra, um pecador hilário e condescendente com o mistério do planeta. Salvar o mundo é tudo um ilusório afã gratuitamente frígido. Um deus quer é ser visto. Eu, propositadamente, quero o espaço morto e infinito, acima das cabeças pensantes que acham que o mundo é simplesmente um instante de anos e acontecimentos findos. Peço por crer numa via-láctea, cheia de mornos e róseos lactobacilos energizantes e vivos.
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Eu tinha um árduo desejo de chupar resina. Aquela mesma colhida nos pés de alguma árvore cinza e feia, como minha infância infantil pintara nos moldes do pensamento longínquo. Eu estava ali, a chupar resinas, cheias de um mel esquisito, que não era doce e nem amargo, era um meio termo de açúcar inexplicável e implacavelmente gostoso. O mundo, naquele dia, fez-se perigoso e azedo. Eu fui catar resinas. Não sabia se era perigoso perder-se em pés cinzas, cujos caules caíam sobre nossas cabeças em formas geometricamente imensuráveis. Na casa da "bisa", os baldes eram doces. Mais calmos ainda que no começo da jornada. E aquilo tudo que colhíamos era, simplesmente, simples, sem muito a oferecer, com o gosto mais da boca que chupava, do que propriamente o objeto colhido e docemente inofensivo. Minha boca era doce. Era tanto quanto eu chupava os geométricos disformes e açucarados caules em minhas mãos sujas de barro e sonho.
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Nunca mais o vira em tantos anos após beijos e lençóis encobrindo as carícias infantis de suas mãos. Ele, meu primo. Meu primo de carne, osso e tentação. Ele era lindo em sua beleza mais distante que de quaisquer outros olhos acostumados com muitas coisas. Eu o beijava facilmente. E tinha por ele mais que outro sentimento de angústia e desespero. As férias eram curtas e, pelo nosso pesar infame, estávamos fadados ao desalento. Nunca mais o vira. Uma pena, pois era sempre bom o estar e o desamor de lençóis encobrindo um leito por onde a inocência era realmente o gosto bom daquelas tardes.
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Yemanjá ice

Ah, o verão!, como diria meu irmão. Ice é só o oposto do calorão que fez nas ruelas e becos perdidos do red river, bairro mais charmoso de Salvador, como eu diria sempre à minha amiga Raquel. No dia de Yemanjá, ele fica mais cheio de graça e gente. Os bons amigos sempre aparecem, tomam todas e varam a noite como chibungos por seus bares intermináveis e um Mercado do Peixe que não dorme. Esse dia será inesquecível no imaginário da GAlCa. - Desculpem, por obséquio, a intimidade deste relato, com suas siglas perfeitas e abençoadas pela rainha das águas salgadas... é que o dia e noite foram tão bonitos e charmosos e gigantes, que nunca mais beijos doces e demorados serão tão formosos quanto foram.
Odoiá.