sexta-feira, 27 de junho de 2008

A EVOLUÇÃO DO PAGODE

Eu estou musical esses dias. Não estou ouvindo nada novo, pelo contrário: o forró povoa a minha cabeça durante o dia inteiro de todos os dias, mas não por opção e escolha. Só que ontem eu estava a pensar sobre as diversidades musicais de nosso cotidiano axesístico. Tudo é axe, constatei. Até mesmo Caê, nosso ilustre mago das músicas erudito-bregas. Não falemos de Caê, deixemo-lo lá junto à Canô e seus milhares de séculos acumulados em sorrisos e sabedoria. O mote aqui é o pagode e sua evolução melódica e expressionisticamente corporal. Que venha o pagode!
Primeiro, lembro-me vagamente de como eu o conheci. Não sei, acho que com o 'É o tchan' e 'Terra Samba', quando ainda o pagode era uma forma de satisfação da periferia doida por um tipo de festividade pura e simples. Falavam sobre coisas do cotidiano, brincadeiras de criança, o buzú lotado e o povo trabalhador de um remelexo ainda parcialmente desconhecido. Bem, o 'É o tchan' dava já os sinais de onde iríamos com toda essa vontade de quebrar as cadeiras, vinda de lá do "vai compreender que o baiano tem o diabo no quadril", com aquela do "bota a mão no joelho, dá uma agachadinha, vai mexendo gostoso, balançando a bundinha". Tá, mas eles também tocavam aquela da "estátua, pã!", "passa lorão, passa gordinha, quero ver você passar por debaixo da cordinha". Só que ele, enquanto 'Tchan', assim como outros tantos, não foi suficiente para evoluir o gênero musical mais contrabandeado ao incoompreensível e absurdo trimilique engendrado por letras mais que sexuais, quase naturalistas. Nesta época remota, não fazíamos nada além de sambar de todas as formas possíveis e inimagináveis: sambávamos como as cariocas da escola de samba, sambávamos no 'miudinho'; sambávamos pulando pros lados com as danças do harmonia do samba - joga pro lado e pro outro, pescocinho para frente, mexe a cabeça e o pescocinho, se movimente(...); largávamos os braços pra cima e pro lado, na dança do "tá bonito, tá bonito, trá trá trá, é a dança do esquisito(...)"; sambávamos pros lados, um de cada vez, claro, sem o pulinho desta vez, com aquela música "quem foi que disse que fusca não sobe ladeira? (...) tá vendo aê, aê, aê (...)". Parece uma quimera ainda em processo de concretização ideal toda essa vivência que os meus primos nascidos em século atual, com certeza, não terão a oportunidade nem de perceber.
Depois, com o barateamento dos instrumentos musicais básicos para um grupo de pagode - cavaquinho, pandeiro, tan-tan e repique -, alastrou-se uma onda de sonho dantes pertencente à nata da escola de música da Universidade Federal e dos cantores com o dom dos gogós afinados e competentes: era só pôr um óculos escuros na cabeça, botar uma roupa descolada, de preferência um bermudão longo no joelho, com um tênis sem meia e uma camiseta bem regata. Essa foi e está sendo a receita de bolo para o sucesso pagodístico da piatã e itaparica FM. Daí surgiu um tipo de pagode que falava sobre homens e mulheres, normalmente um dando um belo corno shakesperiano no outro, ou da mulher 'miseravona' que não dava bola pra um carinha com este tipo de vestimenta, ou sobre um cara todo cheio de marra. O estilo desse meio-termo era: dançarinos no palco, aos montes, requebrando mais que toda a confederação internacional das 'negas do leite'. Até aí, menos mal que hoje, porque ainda sambavam alguns minutos, entre uma quebrada de cadeira e outra. E, mesmo que parcas, ainda haviam umas morenas rechonchudas de coxa e bumbum, no meio de dois ou mais machos magrelas e de mola, tentando achar o espaço no próprio universo dantes feminino e impulsionadas pelos homens da platéia que ainda gostavam de ver mulher dançando um pagode suado. Eu só não sabia, caros amigos imaginários, que este era o princípio do fim da "sambadinha".
Alguns anos depois me veio um tipo de dancinha meio esquisita. Os pagodes continuaram a valorizar um tipo de criação letrística que se sente em meio à ditadura militar, onde os censores, de prontidão, tirarão a bendita música de circulação. Os "duplos-sentidos" das composições não são, com efeito, o problema, pelo contrário, são a parte criativa e que reverencio desde então. Contudo, os temas são os repetitivos e continuativos atos sexuais, partes íntimas, posições de cópula, entre outros aí tantos que nem o "kamasutra" foi capaz de criar. É um tal de "rala a tcheca no chão, rala a tcheca no chão(...)". E não venham me dizer que cataremos, em plena festa na península de itapagipe, na ribeira, uma Tcheca e ralemos a cara e todas as outras partes da infeliz azarada cidadã no chão! não é isso, ninguém é menino. Uma outra que faço questão em citar é aquela do pica-pau, cuja letra é:
"Eu já falei pra você Pra você, pra você não marcar toca, A sua garota cresceu Tá dando água na boca, Já não é mais criança, É uma gata no cio. O meu cachorro latiu, Já fiquei sabendo, Ela não assiste desenho do lobo mau, Ela agora só quer ver o desenho do pica-pau, Êêêê êêêê pica-pau...".

Realmente essa foi baixa: 'ela é uma gata no cio, meu cachorro já latiu'. De cortar o coração. Isso é um retrocesso à idade da pedra lascada. E bote lascada nisso. E cuidado vocês mamães e papais de todo o Brasil: cuidado com suas filhinhas, porque o cachorro de casa, esse aí de nominho gravado no potinho com raçãozinha cara, pode ser o primeiro. Claro, o primeiro sempre será um cachorro, não temos pra onde correr. Outra letra muito interessante e filha dos anais da ditadura, cujos censores passaram por despercebidos, foi aquela do tabaco: "Eu te avisei, você tá proibida de fumar, mas você não pode sentir o cheiro do tabaco (...) Desce com a mão no tabaco, sobe com a mão no tabaco". Alguns têm a teoria de que essa é uma grande música que vai de encontro ao poder manipulador e deletério da indústria do cigarro. Outras músicas se desviaram desse mote para um tipo de composição de protesto social contra essa estratificação e preconceito com os moradores da periferia: "Eu não aguento mais vou desabafar, embaçaram na quebrada ta sinistro de aturar, invadiram nosso gueto tiraram a paz e o sossego toda noite, todo dia(...). Tome baculejo, toma baculejo, da onde você vem, pra onde você vai, mão na cabeça rapaz, tô ligado, tô sabendo você que é do movimento eu quero ver o documento". Muito sério isso. Outra muito interessante desse movimento é: "Oh Maria, você pediu eu vou te dar, tá rolando, tá rolando, tá rolandotá rolando, tá rolando tá rolando tá, A calcinha que você pediu, uma é três, duas é cinco... A policia chegou, não precisar corre ê, a gente tá de boa e vamos resolver. Peraê, peraê, peraê, não é assim que se faz Abordando o cidadão, que não é ladrão. Eu sou camelô, me orgulho da profissão, saio pra batalhar atrás do meu pão, não precisar agredir, olha o que tenho em mãos, meu grito é de guerra quem quer comprar, tá rolando, tá rolando, tá rolando, tá rolando, tá rolando tá rolando tá".
E, pra fechar a situação musical do pagode em nossa sociedade, termino aqui com um clássico do Parangolé que, ao meu olhar de estudante, fala sobre uma certa patologia conhecida como hidrocele. Eu nunca vi uma música gozar com a cara de alguém portador de alguma doença. Essa, realmente, conseguiu furar os anais, ou melhor, os testículos do grande cúmulo que é a música popular brasileira, representado pelo gênero mais irreverente e sem-noção: o pagode. Uma 'selva' de palmas, por favor!
"Isso vai te curar, Ovo de Avestruz!
Ovão, Ovão, Ovão, Ovão, Ovão, Ovão, Ovão...
Que ovo é esse hamburguer? parece ate de avestruz, eu vou pedir para JESUS, para fazer uma operação e diminuir esse ovão.
Que ovo é esse hamburguer? da para fazer varios omeletes, maior que bolas de chiclete,
pega o alfinete pra furar e para rasgar usar gilete.
Que ovo é esse hamburguer? parece ovo de carote, ovo de jegue, ovo de bode
e quando anda se sacode, corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote, corrote ovo de carote
corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote,corrote, corrote e quando anda se sacode".

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Eu não aguento mais...

1) A ressaca
Primeiro falemos de uma coisa muito perigosa: a ressaca. Certamente ela foi trazida no século XVI com Cabral e as santa maria, pinta e nina. Porque a minha teoria é de que ela, a ressaca, grande entidade etérea e defesa sobrenatural do corpo contra o suicídio alcoólico, foi inventada, assim como este país de onde vos falo. Inventaram a ressaca como medida de ação limitante e coercitiva, quando (sabemos disso há muitos anos, desde o antigo Egito) o poder que o álcool pode exercer sobre um indivíduo se torna implacável e quase incontrolável. Não estamos aqui falando de acidentes automobilísticos, cornos indevidamente premeditados ou ocasionalmente acontecidos. Falamos de perder aquela barreira prontamente ativa que, segundo Freud, é construída necessariamente para a vida em comunidade: o superego. Ao perdê-lo, deixamos fluir as coisas mais inúteis, frustrantes e/ou alucinadas que pensamos e, na maioria das vezes, nem pensamos ou sabemos que existem. Então, a ressaca, neste sentido, é um fator importante no processo 'conviver em harmonia'. Mas, na maior parte do tempo, esse viver é estupidamente cansativo. E este empecilho limitante para a ingestão de maiores quantidades de álcool é, simplesmente, um absurdo e sem sentido. Eu penso que o corpo, assim como na construção do superego, poderia ter inventado outra defesa do tipo não-castigatória e estupidamente ineficaz para muitos. A ressaca, vejo aqui de lunetas, é um castigo divino, trazido pelos portugueses ao colonizar o Brasil. Então, culpemos também o catolicismo, oras! Assim como quem o trouxe para cá. Tão vendo? tudo culpa das caravelas! Maldita seja a escola de sagres.

2) Sucessos musicais
No vai e vem dos sucessos musicais, eu não aguento mais essas festividades juninas, cujas milhares de bandas em revezamento nos palcos de um mesmo perímetro, tocam o mesmo repertório. Os sucessos 'chupa que é de uva' e 'senta que é de menta' são garantidos até para as bandinhas de início recente e trios forrozeiros autointitulados pés-de-serra.
"Vem meu cajuzinho, Te dou muito carinho, Me dá seu coração, Me dá seu coração (...), Na sua boca eu viro fruta, Chupa que é de uva, Chupa, chupa, Chupa que é de uva".
É muita fruta pra chegar até uma uva, né? pensei nisso também. O caju e o morango, apesar de mais 'raros' e caros, perde de longe pra uva. Ouvi outro dia um outro tipo de 'chupe', só que este tinha a justificativa um pouco artificial: a coisa era de tuti-fruti. Minha amiga, a crítica literária, lançou uma ótima: lambe que é de inhame. E esta, caros amigos virtuais e fantasmagóricos, deveria ser o mote e preferência nordestinas, pois, este tubérculo de grande porte energético e histórica utilização medicinal, é um dos alimentos mais consumidos por essas bandas perto da linha do equador. Paciência, novamente os tuti-frutis e parreirais consumiram e aculturaram a grande massa nordestina. Outra peste de música que povoa esses forrós modernos é a paródia melodramática das músicas americanas. Meu deus, quanta disponibilidade dispensada para fazer muita merda. Realmente, isso corresponde a um grande assalto à boa música popular brasileira.
"Se não valorizar, com certeza cê vai me perder, embora eu te ame sim, eu juro não vou suportar (...), 
Amo, amo você ê, mas se não valorizar vai me perder ê ê ê ê...
Believe in that? This a Rihanna music!!! Oh, god, please! No comments.
Parafraseando Mao Tsé-Tung: lá viu?, lá deixe!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Arre, égua!

Perdoem-me, caros leitores de joão-ninguém, pelo mau português e erros de ortografia. Para os erros de concordância e blasfêmias eruditas, peço-lhes, imploro-lhes piedade. Bem, continuando a saga de teclar, hoje foi um dia muito interessante. Pra falar a verdade, ainda não sei mexer nesse blog. Tampouco sei o que escrever, como escrever, pra quem e o quê escrever. Em tese, escrevo. Em suma, prescrevo uma receita ao paciente invisível. Acho que meu blog não teve uma visita. Mas não importa, não preciso de visitas para a visualização de um obstáculo profundo de palavras incongruentes. Sim, continuemos a vida e o texto...
Há pouco avistei uma figura ilustríssima atrás de um trio elétrico dando voltas na praça pública, durante as comemorações juninas. Ela simplesmente estava trajada de uma blusa de alça cor preta com branca, tipo zebrinha, mas sem 'listras' (adooooro esta palavra!), com uma microssaia rosa clara. O mais legal desta roupa imponente é o tipo de calçado utilizado na combinação pitoresca. Simplesmete a mulher me põe uma bota até o ápice da patela, de cor marrom acinzentada, de bico fino, com um acabamento típico para vestes noturnas e invernísticas. Nada contra o traje, mas eu pensei em algo após ver essa criatura trajada de forma tão díspare para qualquer feito de Giorgio Armani. Infelizmente, na nossa simplérrima e sofisticada sociedade de consumo ininterrupto, a moda nos dita o que vestir, comer e dormir. Caso seu pijama não for de seda, ou viciado em costura manual, ou com um design arrojado e moderno, esqueça as noites de amor e gozo infinitas: você estará fadado(a) ao fracasso dominical, matinal, semanal... pois, se o seu marido ou esposa não vir alguma 'marca' no seu pijama, será batata: não se escutarão mais os segredos de liquidificador. Morreremos, certamente, de algum tipo de cisto peniano, ovariano, uterino, vaginal, de tanto néctar preso por não se ter o catalisador das delícias voluptuosas e inerentes aos seres humanos providos de gônadas e gônados (não sejamos preconceituosos, ora!). A menina trajada, voltando ao assunto, com certeza foi fisgada pela moda implacável. Ela nunca poderia deixar de ter uma bota daquelas, oras, que de tão cara, deve ter custado-lhe o resto da vestimenta combinativa para a felicidade dos que vêem e entendem de modística. O que era mais horrível disso tudo, era a forma de como as pessoas transmitem corporalmente o tipo de roupa ou combinação que vestem. Uma coisa é saber o que se veste, o porquê, o onde; outra, é, simplesmente pelo mandatório da nobreza sem possuir o bendito sangue azul do dólar eurístico, abusar de um bem tão nada a ver com a destreza e simplicidade que a pessoa explicita. Tá vendo que isso fica feio, menina? Não por você não ser merecedora da bota de bico fino de marfim, mas por você destacar a própria individualidade nesses crédulos e efêmeros dizeres de outrem que se julgam os senhores fazedores da inclusão social e beleza. E, através deste destaque, parecer mais uma réplica de 'coisa feia' do que sósia de modelos internacionais.
A menina, mesmo com a bota marrom acinzentada, era muito bonita. Ela tinha o cabelo preto, ondulado, tinha a pele marrom, cor de brown, o que é uma redundância feliz e poética. Nada disso vi quando a avistei do momento primeiro. E, com certeza, a segunda impressão é o que ela tem de melhor em meio às adversidades ilusórias de cores e objetos valorados erroneamente. Somente que, muitos homens e mulheres que lá se divertiam, com certeza não a viram deste jeito. Realmente, uma pena!

domingo, 22 de junho de 2008

Agora, pronto!

Eu fico agora o dia inteiro a pensar o que postarei nessa merda de blog. Puta que pariu, essa coisa não me dá descanso! Mas, entre mote e sai mote, eu percebo que o mundo é mais que um simples pincel e a nossa vida uma tela em branco. Eu pensei hoje em falar sobre as músicas de forró, mesmo que absurdas e sem sentido, sobre as dançarinas de calcinha preta, ou as back vocals de zezé di camargo e luciano. Só que agora abateu-me um tipo de sentimento tosco e frio, sabe? daqueles que se tem só quando se fala de política e politicagem. Hoje foi um dia decisivo para minha pessoa tosca e fria: mil vezes uma 'selva' de palmas para a incompreensão. E para a ilusão também, tão citada entre os discursos ferozes de coligação iminentes. Eu queria que tudo nesse mundo, inclusive as relações interpessoais fossem puras, no mais simples querer e querer-se. É, vejo que estou errada. Estou errada quanto a querer que as coisas sejam feitas de uma forma democrática e beneficiária à maioria. Só que não existe isso infelizmente.
Deixo-me no texto e com a plena convicção de que não posso mais escrever algo linearmente. E tampouco posso inferir às não-alianças a salvação da humanidade pequena e insossa, de um interior insosso e imberbe de trâmites mais que duvidosos.
Please, give me a break.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

E no interior do interior...

Tenho uma amiga que é crítica literária. Ela goza só em proferir sua função e formação sócio-egoísticas. Eu pedi ajuda na avaliação quanto à utilidade e futuro brilhante e possível para este blog e escritora, respectivamente. Primeiro, ela intitulou-me desta forma lânguida; segundo, habituei-me a não contrariar palavras sábias de academicistas e donos das verdades incontestes de nossa rica e bela sociedade. Em suma: tenho uma amiga que é crítica literária. Agnosticamente literária.
Mas, pra conversar sobre o interior do interior, fiz-me uma pergunta boba. E a observação a que me foi reservada, não teve lá muito êxito e competência para se fazer verso ou prosa. Ela apenas povoa essa virtual realidade por não ter mais para onde ir. Essa coisa é simplesmente uma órfã de chão e que se alberga para se fazer existir agora e sempre, onde houver memória RAM e pessoas de direcionados cliques e clichês.
Bem, hoje eu estava a observar a vida como ela é. Antigamente, eu conhecia um monte de gente. Agora, os amigos se resumem a lacônicos colegas e os colegas resumem-se a meros e efêmeros conhecidos. Amigo, amigo mesmo, aquele que é pau pra toda obra e hora, desses de rocha, esses não existem mais. Não sei, tentei achar uma explicação em meio a cervejas e músicas de calcinha preta enquanto degustava um pastel de presunto e queijo na praça de eventos. Obviamente eu não consegui pensar em nada útil neste último dia útil da semana. Parei meus olhos em ptose no outro lado da rua, numa casinha de cor alaranjada. Avistei uma ruma de homem que bebia utilmente neste dia útil e internacional de comer água. Todos ali, percebo num dado momento lacônico de pensar em algo, em plena confraternização fraternal, são casados ou bem relacionados com suas respectivas. No entanto, as respectivas não se encontravam em lugar nenhum outro de socialização e bem-estar coletivos. Parece até que a vida foi feita para os homens morrerem com muitos amigos e, as mulheres, de misantropia adquirida. Foi um fato simples: perguntei por onde andavam as tenras e queridas comedoras de água do antigo casarão, das caiporas do bloco das 'elas sem eles', das azuadas meninas do outro regue dos anos passados. Todas elas, amigos-colegas-conhecidos, estavam em casa cuidando dos filhos ou dos maridos e namorados que chegariam embriagados e sedentos por um caldo de feijão acompanhado por um café bem forte e sem açúcar. O que tornaram esses homens e mulheres bem relacionados uns com os outros? Por que diabos, os sexos são tão determinantes para uma vida de amizades e bebedeira entre outra, e tão perto, de labuta com panelas e ralos de pia sujos de restos de comida e palitos de fósforos usados? Aqui, onde me encontro e desencontro com o pensamento solto e permeado de cerveja barata, vejo que a própria repressão do ser masculino é um diálogo violento e incrustado no ar e que não se pode ir de encontro. O que seriam das mulheres que se dispusessem a indagar contra o ser cobiçado e salvador de sua exclusão permanente, cujo passar do tempo é tão implacável em cravar a ferro em sua epiderme dantes lânguida e ricas em proteoglicanos? Como se pode não aceitar que o ser humano idolatrado e dominante, que pode livrá-la de uma solitária velhice irreversível e infeliz, não pode repreendê-la enquanto ele puder e quiser? Todas aquelas que se dispuseram a romper com naus e caravelas rumo ao descobrimento, eu conheci. Elas tiveram seus destinos jogados num trágico trem para um lugar distante, onde não pudessem chamá-las raparigas, putas ou ladronas. É, porque agora, além de serem tachadas de putas, as mulheres ganharam um novo pedestal de humilhação: ladrona. E sobem ao pódio as que chegam em primeiro lugar, após ultrapassarem esses pedantes e excludentes seres humanos que dizem ter um pênis entre as pernas. Do pênis, eu nem duvido que os tenha de fato. Porque, para redenção e solução para esse estado humilhatório, não é duvidar da existência, tampouco culpar a outra cabeça.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um, dois, três...

... e já!
não?

as palavras iniciais pra essa atitude: crente do cú quente!

e por aí vão os pensamentos soltos de uma frase ridícula de uma infância por demais vivida de um jeito descontraído. Mas qual o objetivo dessas palavras perdidas no tempo? reflexão, autopiedade e saudosismo? não, apenas uma vontade de dizer virtualmente para o ninguém oculto que a vida passou e que os crentes dos cús quentes não são mais uma realidade distante. Eles estão por toda parte, inclusive nos arredores de cilindros viciados e fumegantes. Eu bem que tento escrever algo útil e sério, mas eu não agüento o cotidiano que nos cerca, entupido de hipocrisia e descaração. Estamos agora em início das festividades de inverno do país mais quente da américa latina. Forró!, esse é o ritmo. Pros interioranos, o mais mela-cueca de todos. Nem arrocha bate esse fervor nordestino que se perdeu entre trumpetes e baterias eletrônicas, enquanto há um detrimento do bom e velho zabumba no chão batido de terra vermelha. Alguém por acaso já viu o funcionário mais importante desses arraiás? Ele fica com um balde de água numa bacia de plástico, geralmente azul e redonda, e, com a mão em concha, joga água atrás do casal mais fuzuento e dançarino, que levanta aquela poeira retada de vermelha e rinitente. Ele se tornou uma lenda viva na memória dos que gostam do mais mela-cueca de todos os ritmos.

Pra não dizer que não falei das muambas da minha infância, eu tive um cachorrinho que latia, sentava, ficava de pé, sentava de novo e depois dava um mortal de costas. Outra coisa importante foi a coleção da boneca Barbie. Percebi ali, durante meus 6 ou 7 anos, que minha mãe só tinha me dado 1 Ken para todas elas. Porque só havia um Ken para todas as versões loira, ruiva e daquela com cabelo arrepiado por possuir uma ferrari conversível. Isso ficou incrustado em minha cabeça anos a fio, até perceber que a sociedade é machista e influente de fato. Desconstrui isso, graças às tardes de cerveja no boteco de São Lázaro. E também devo essa empreitada de demolição do aprendizado burguês com as bonecas de infância às brigas que tive com minha avó. Ela foi, sem dúvida, uma pessoa muito importante e que me mostrou a utilidade do fogão, pia e caminho para o supermercado enquanto meu irmão dormia até meio-dia do dia. Minha história é bem mais drástica do que a dos meninos coreanos que trabalham mais que uma jornada de puro trabalho escravo diário. Por isso ela está aqui neste blog, onde, através desta WordWideWeb, pode ser lida pelos virtualmente presentes em lugar nenhum.

Uma consideração final a ser feita, é sobre a frase inicial deste blog. "Os crente do cú quente". Minha amiga disse que meu primo tem cara de crente. É, definitivamente, quem vê cara, não vê o que temos no meio das nádegas.