terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ode à primavera.

Chegaste quase, ó honrosa e doce primavera inefável.
Sinto seu cheiro permeando as torrenciais chuvas que tornam
o dia tão chato quanto é este meu coração diluviado que vos fala.
O queimor simples e manso que trazes é a salvação celestial
para os desalmados corredores do frio cinzento que habita o céu lá fora.
O vento, o silêncio, os pingos na calçada, nada é mais belo
que o início da vida nas árvores, muros e encostas dantes tórridas.
Eu sinto sim, cheiros mil, flores inundando os sonhares acordados,
os pesadelos infinitos que, num rompante da madrugada, acolhem-se
auspiciosamente na tua breve morada abrupta, de um novo coração trimestral.
Chegue logo, ó divina cor laranja que o sol insiste em pôr no raiar do dia;
Venha insípida e doce, transtornados pelo calor, pela vida que ascende,
pelas cortinas que acendem o flambejar do dia intenso e sudoréico,
mas lindo e cheio de rompante de vida.
Espero-te, ainda com uma leve e prévia saudade da brisa fúnebre,
que neste inverno fez-me pensar em ti tão premente.

3 comentários:

S. disse...

Me lembrei de um texto de Clarice, no qual ela diz que "a vida não se esquece". De se refazer sempre e sempre. Refazendo tudo, refazeeeeeenda.

Beijo, Yô.

Pedaço de Rio, São Francisco no chão... disse...

"Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação".

Achei essa frase num texto de Cecília. Obrigada mais uma vez! =]

um cheiro.

Anônimo disse...

Maravilha de texto!
Deve ser maravilhoso morar junto ao Velho Chico.

abraços

Anjo D