É a melhor época e festa do ano, que as gentes do interior esperam ávidos e auspiciosos. Fui criada assim, em meio aos 'tracks', chuvinhas, vulcões e busca-pés que a meninada insistia em 'soltar' escondido dos mais cuidadosos pais e parentes. Aí, quando se via e ouvia, era aquele clarão e um estouro de estourar os tímpanos dos desavisados. Ai, como era bom ser menina naqueles velhos e idos tempos em que as festividades juninas eram isentas do comercialismo barato e ferrenho dos dias de hoje. Ir para a praça, toda enfeitada de barracas e bandeirolas, com os sanfoneiros, 'trianguleiros' (lê-se triangleiros, como diria meu amigo Cláudio) e zabumbeiros cantando "Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz..." era a diversão das cidadezinhas perdidas no oeste da minha 'Baêa'. Depois de vários anos morando na Bahia (entende-se Salvador, a capital desta), como diria meu tio Justino, muitos de nós não perderam esse intusiasmo de fazer os 'panos de bunda' e pegar um ônibus, cujo tempo gasto é de mais de 10 horas até a chegada nesse interior onde nasci, às margens do São Francisco. Ê, São Francisco véi! Palco de muitos 'São Joões' e também de muita presepada de minha infância.
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Bem, quando eu fiz 13 anos, fui agraciada por minha tia para ir numa festa de São Pedro, que acontecia(e) em Oliveira dos Brejinhos, a pouco mais de 90 km de minha cidade, Ibotirama. Era fácil chegar lá, era só pegar um carro, dirigir por menos de 1h e pronto, estávamos nas Oliveira, toda enfeitada, cheia das bandeirolas, cada praça tocando uma banda diferente, com aquelas pessoas de vários lugares da região. Era um mundo novo que eu descobria. Fomos pois alugamos uma casa, iríamos ficar até o último momento de festa. E foi bom, ah, como foi bom. Nos anos seguintes a mesma coisa se repetia, era como um ritual ir pras Oliveira.
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Eu só vim descobrir o São João adolescente aos 14 anos. Começamos a freqüentar Boquira, pois meu tio se mudara para lá na época. Desde então, nunca mais deixei de ir. É sempre o mesmo, sempre a mesma coisa de sempre, mas, o bom é que os forrós improvisados, os sanfoneiros e zabumbeiros não somem nunca de lá. Acho que é por isso que eu gosto: o gosto da cidade é bom, o cheirinho de chuvinhas, das bombas de mil, as crianças correndo pelo 'redondo' da praça principal; o boteco de Tchoulinha, Budago, Cambão e Sil, onde a gente pára para tomar várias 'canela de pedreiro'; a festa do 'ninguém sara mais' em Lula, com uma atração que ninguém sabe de onde veio e pra onde vai, mas que, não tem importância, porque é animado do mesmo jeito; o 'pinga-pinga' que Pró Paula organiza, onde a gente sai na rua com o sanfoneiro tocando e visita um monte de casas de vários fulanos de tal, que fazem bode assado desfiado e deixam uns vários potes de licor à disposição dos participantes; o forró do tutano, que a gente compra uma camisa e tem churrasco de grátis; outros forrós lá, de outras galeras, que a gente invade também em algumas ocasiões, apesar das rixas entre os grupos, então não dá pra ser assim tão displiscente. Ê, é a Boquira véa!
'Apois' então, e aí vem novamente - graças a Deus! - o São João. Esse ano, não muito diferente dos outros, Boquira estará presente mais uma vez na minha vida. Depois dela, as Oliveira, para o São Pedro fechar com chave de ouro as minhas férias. Novidades novas? Sim, esse ano meus amigos farão parte deles comigo. E, com certeza, neste último São João da minha vida estudantil, quiçá até último por algum tempo depois, a 'jiripoca vai piar' com a gente cambaleando pelos ladrilhos da cidade a cantar "... vem cá cintura fina, cintura de pilão, cintura de menina, vem cá meu coração...".